quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Reflexão: A armadilha de Shyamalan

 “O Sexto Sentido”, filme de 1999 dirigido por M. Night Shyamalan, oferece um final fantástico. É tão poderoso que, injustamente, põe suas demais qualidades em segundo plano.


O longa foi lançado em meio a uma enxurrada de blockbusters que surgira a reboque de Titanic (1998). E felizmente, diferente destes, era, digamos, quase um filme de autor. Pessoal, intimista e apaixonado. É visível a entrega e a crença dos realizadores para com a obra.

Era o projeto da vida de Shyamalan. E Bruce Willis percebeu e se rendeu a grandiosidade do roteiro. 

“O Sexto Sentido” foi um sucesso de bilheteria, principalmente no Brasil, onde levou mais de 4 milhões de pessoas ao cinema. Todos haviam se rendido ao final surpresa de Shyamalan que fora catapultado ao status de inovador da sétima arte e taxado de “o novo Hitchcock”. 

Mas sabem o que é o mais surpreendente? Eu soube o final antes de assistir ao filme!  

Exatamente! A infeliz de uma amiga, em meio a uma conversa, entregou sem pudor a maior reviravolta de um filme na história recente de Hollywood. Óbvio que no momento eu não havia percebido a violência com que fora submetido. Pois não tinha idéia da qualidade e do efeito em cadeia que “O Sexto Sentido” estabeleceria no cinema americano. 

Pois os estúdios entraram num furor à procura de novos projetos com enormes reviravoltas. Finais com ápices alucinantes que desconcertavam o espectador fazendo-o repassar mentalmente toda a história em busca de furos e incongruências. E apesar das grandes reviravoltas não terem surgido com o filme de Shyamalan, vide “O Gabinete do Dr. Caligari de 1920, foram potencializados por ele. Ouso dizer que o cinema a posteriori criou um espectador dependente de finais impactantes. Houve um descomprometimento com o miolo dos filmes, com a distribuição coerente dos ápices ao longo da história. A energia era canalizada, muitas vezes, apenas no final fazendo o público sair atordoado do cinema, com adrenalina a mil.

Quantas vezes me deparei com pessoas reclamando da “falta” de final de filmes mais antigos. 

A produção cinematográfica americana, mais do que nunca, havia se rendido ao puro e superficial entretenimento, transformando-se num parque de diversões.

Por fim, o próprio final fantástico de “O Sexto Sentido” o boicotara como arte cinematográfica. Mas independente disso, o filme continua sendo um marco no cinema, sobrevivendo honestamente a cada nova visita do espectador. 

E a mim, que roubaram-me a chance de saborear por completo a obra, restou assisti-lo apreciando suas outras qualidades. 



8 comentários:

  1. Fala, Rodrigo! Bem legal o blog... Bom, a princípio, pra mim, qualquer blog de cinema é legal, então... rs... Li só o texto do Shyamalan... E é isso mesmo, concordo contigo...
    Aliás já conversamos sobre esse filme na ccs... Depois vou ver com calma as outras resenhas... Mas sugiro a vc que intercale tb com textos de filmes recentes ou que ainda estejam em cartaz... Muita gente (eu mesmo) gosta de ler essas opiniões na internet antes de ir ver o filme.

    E poxa, exatamente no dia em que se lamentava por aqui a ausência de súditos da corte portuguesa prontos pra serem zoados, vc aparece! Tudo certo por aí? Relaxa que a semana ainda não acabou... Domingo tem mais... rs...

    abração!
    Guto

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  2. E aí Guto, tudo tranquilo? Po, valeu mesmo ter visitado o blog!

    E, apesar da derrota de ontem, creio que domingo tudo será diferente... rs

    Sobre a ideia das resenhas é algo se pensar realmente. Eu estou priorizando análises completas de filmes mais antigos, exatamente para que a pessoa já tenha visto e possa desfrutar melhor do texto. Mas vou pensar sobre a questão das resenhas... Vlw pela ideia!

    Grande abraço!

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  3. Agora ó filho da puta, vc vai ter q escrever outro com essas "outras qualidades" do filme.

    É engraçado qnd vc dá uma olhada na obra do Shyamalan q ele, mesmo sendo o precursor moderno desses finais bombásticos ele vive intercalando, mas nunca abrindo mão das "outras qualidades" (utilização das cores, entrelinhas, etc), como no unbreakable (me recuso a usar o nome em português...) e dama da água, que desde o início deixa escancarada a natureza fantástica do filme.

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  4. "Ouso dizer que o cinema a posteriori criou um espectador dependente de finais impactantes".

    Eu sou um desses, admito. Mas estou procurando melhorar. Enfim, bom texto!

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  5. Po, gostei muito do seu post, cara.

    Porque a idéia do blog é exatamente essa.

    Não é recriminar quem vê cinema superficialmente, mas sim dar ferramentas para ele ampliar, mesmo que um pouco, o entendimento e respeito sobre a arte cinematográfica.

    E valeu pelo elogio, abraço!

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  6. O Shyamalan a muuito tempo não faz algo digno desse sexto sentido, na minha opinião. Vi o último mestre do ar não esperando absolutamente nada, e fui correspondido! rs
    Abraço Rodrigo, e continua falando do filme como o G pediu. Quais as outras qualidades?

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  7. Então, eu devo migrar para um domínio meu até o início do ano que vem.
    Aí pretendo, pouco tempo depois, abrir para a galera escolher um filme para eu analisar.
    Vai que rola um do Shyamalan... rs

    Sobre a qualidade dos filmes dele, eu não posso falar muito. Vi até "A Vila" e numa época que ainda não tinha a base que eu tenho hj.

    Ele é um diretor complexo em alguns aspectos. Muito habilidoso ao elaborar a decupagem e montagem.

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