quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Análise (parte 1): Em Busca do Ouro



Coloquei um link no cartaz direcionando para o filme no Youtube. Acredito que seja de extrema importância conhecê-lo, por ser uma obra fantástica do cinema mudo. É o filme de Chaplin que mais gosto e por ser relativamente curto e bastante engraçado imagino que todos irão gostar também. 

Parte 2
Parte 3 

E vale ressaltar que essa análise entrega toda a história do filme.


"Em Busca do Ouro", lançado em 1925, foi dirigido, roteirizado e estrelado por Charles Chaplin, que narra as peripécias de Carlisto em Klondike, no Alasca, lançando-se à sorte na conhecida corrida do ouro de 1898.

Chaplin, como humanista e esquerdista, tem nesse filme a obra pelo qual gostaria de ser lembrado. Um filme que, antes da comédia, é uma panfletagem contra o egoísmo humano, o capitalismo selvagem, o totalitarismo e qualquer tipo de opressão ou preconceito. E é dessa forma que devemos analisá-lo.

A introdução, com plano geral dos garimpeiros marchando à montanha de gelo, não só registra as dificuldades da empreitada como sucede a dois tipos de leitura: homens diminutos e frágeis inseridos naquele grandioso e traiçoeiro cenário e a uma falsa unidade cooperativa enfileirando-se como formigas ao migrarem por alimento - falsa, pois a ambição humana em busca da riqueza extrapola a uma competição covarde onde a lei do mais forte impera.   




Então Carlitos é apresentado caminhando de forma despreocupada e desleixada pelos desfiladeiros de gelo. Um urso, saído de sua caverna, o persegue durante o percurso, mas o distraído garimpeiro não nota o perigo.

Essas duas cenas constroem o personagem para o espectador, salientando a forma como enxerga a vida e seus percalços. Os problemas, muitas vezes nem percebidos por Carlitos, são ultrapassados de forma natural, sem desespero ou ansiedade. A pureza do garimpeiro o protege das mazelas da natureza e do homem e o faz viver de forma simples e plena. Essa estrutura emocional do personagem permeará todo o filme num sistema de ação e reação (atitude e consequência) estruturada unicamente em sua índole. 




O filme continua a desenvolver Carlitos por meio de gags (efeito cômico). E este talvez tenha sido o grande diferencial de Chaplin, que conseguia adicionar às suas piadas, muitas camadas: de elementos que impulsionavam a história até discussões sociopolíticas. Nenhuma gag era gratuita baseando-se apenas no humor vazio. Não a toa tinha a surpreendente capacidade de migrar do humor pastelão ao dramalhão ao longo da narrativa.

Perceba como Chaplin destaca a estranheza de Carlitos com aquele cenário tão diferente das cidades, ao afundar na neve tentando apoiar-se na bengala, ou ao usar um desenho como bússola. São piadas físicas que enriquecem a história do personagem e nos ajudam a elaborar seu psicológico. Pois rapidamente entendemos que ele não passa de um desesperado procurando uma maneira de emergir da condição de miserável.




A montagem paralela nos apresenta Big Jim e Black Larsen. Já que as sequências de Big Jim - garimpeiro ganancioso que encontrara uma mina de ouro - são intercaladas com as desventuras de Carlitos em busca desse mesmo sucesso, a cena da nevasca nos leva ao criminoso Larsen, consequentemente, salientando sua índole tempestuosa. E então os três são colocados no mesmo cenário: O miserável ingênuo, o garimpeiro ganancioso e o bandido inescrupuloso.

Big Jim, ao chegar na cabana, rouba o resto de carne de Carlitos que, bem menor que o adversário, aceita passivamente. Black Larsen, enfurecido com os invasores, os ameaça com a espingarda acarretando numa briga com Big Jim. Toda a sequência se constrói como uma alegoria à opressão das classes ricas e dos criminosos sobre os pobres. É Carlitos que fica na mira da arma e que será encurralado no canto da casa enquanto os dois brigam por interesses próprios. Ao fim da luta o garimpeiro censura qualquer tentativa libertária de Carlitos, deixando claro quem manda naquele recinto.  




Por meio de um sorteio, Larsen sai à procura de alimento deixando os dois sozinhos na casa. Desesperados de fome resolvem comer um sapato velho. Esta gag reforça a índole de Carlitos e prepara para próxima situação cômica. Perceba como Chaplin degusta com absoluta naturalidade o cadarço e limpa os pregos como se fossem ossos de um saboroso assado. Não só engraçado, mas informativo, entendemos que o personagem adapta-se a qualquer situação, contentando-se com o pouco que lhe é dado. Sua satisfação com a precária "refeição" contrapõem com o inconformismo de Big Jim que recusa-se a aceitar as adversidades. 




De caráter frágil, o garimpeiro entrega-se as dificuldades e cede a loucura. Passando a enxergar Carlitos como uma galinha, sua próxima refeição. A cena faz alusão ao capitalismo selvagem e sua competição voraz que já assustava na década de 1920. Os pobres eram - e ainda são - devorados pelos ricos em meio às crises. Perceba como Big Jim põe o casaco quando de fato resolve caçar Chaplin, relacionando-se com o urso do início do filme. Mesmo animal que irá impedir o assassinato e servirá de alimento, como uma milagrosa providência divina.




Mesma interferência divina que irá castigar Black Larsen pela morte dos dois policiais e pelos crimes anteriores. O assassino extrapola a lei dos homens agindo de acordo com seu egoísmo, entretanto, ainda assim, será julgado sob as leis da Natureza.

Continua...



3 comentários:

  1. Gostei muito dessa análise! Impressionante como 100 anos de história não são capazes de eliminar os problemas humanos.. como a evolução ainda está muito além de nosso tempo de vida e como ainda precisamos trabalhar para as próximas gerações.. Beijos meu Sherlock do cinema. Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Odiei!!! Transar é melhor!!!MUITO MELHOR!!! VOU FAZER SEXO ATE MEIA NOITE!!!

    ResponderExcluir