segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Reflexão: A realidade que convém

Há um tempo que estou "obrigando" meu irmão mais novo, Guilherme, a assistir alguns clássicos do cinema. E por mais que a experiência seja boa para ele, tenho certeza de que é muito mais interessante para mim: acompanhar uma criança presenciando as grandes cenas pela primeira vez não tem preço (nada original, eu sei) - O mais fantástico é a capacidade dele de se envolver profundamente com o filme num primeiro momento e no segundo já estar mais preocupado com o refrigerante e a pipoca.

Estávamos vendo Tubarão (1975) na cena em que a mãe, após ter o filho devorado pelo animal, acusa Martin Brody, chefe da polícia local, de negligência. Meu irmão, que parecia desconectado do filme, já que a cena começava festiva e conclusiva em decorrência da captura do suposto tubarão assassino, viu-se em um estado de tensão crescente com a chegada da mulher. Percebi que, aos poucos, ele se envolvera novamente, até que emoções conflitantes começaram a surgir: revolta pela injustiça sofrida pelo chefe de polícia e pena pela dor que sofria a mãe. E assim, estarrecido, ele resumiu seu estado emocional: "estou me sentindo tão culpado quanto o delegado". 

Este é o poder de Hollywood.

Desde que Hollywood fora construída em terras californianas, na década de 1910, os filmes eram produzidos com o objetivo claro de entretenimento - não como uma simples diversão, mas sim com a possibilidade de experimentar uma nova realidade existente nas telas de cinema.

Todos os avanços técnicos e artísticos destinavam-se a aprimorar o efeito imersivo dos filmes que eram muitas vezes utilizados como ferramenta política, não só servindo de escapismo para o povo fragilizado pela guerra, como propaganda para líderes governamentais...

O público, principalmente o americano, acompanhou o progresso da sétima arte e instintivamente desenvolveu a necessidade de projetar nela os seus sonhos. Era na sala de cinema que o espectador vivia a realidade que lhe convinha. Os gêneros fílmicos foram estabelecidos como produtos variados de uma loja de departamentos. O público escolhia, sem indesejadas surpresas, o que queria consumir, possibilitando um envolvimento maior na fantasia exibida pela tela.   

Fato é que o cinema oferece os canais, e os espectadores o desejo de conectar-se a eles. Exatamente por isso entendemos o porque do sucesso dos filmes de comédia pastelão do início do século XX, dos poderosos romances como Casablanca, épicos como "E O Vento levou..." e "Ben-Hur", longas de ação da década de 80 ou mesmo as animações em 3D contemporâneas. Quanto mais acessíveis e mais apelativos forem os estímulos ao público, maior sucesso eles terão.

Consequentemente, a maioria do público adulto reagirá aos filmes como crianças, buscando os que saciem essas necessidades primárias. Não que isso seja ruim, mas sim, um elemento que dificulta o contato com um cinema mais introspectivo e profundo.

Acredito que, num primeiro momento, devemos buscar o equilíbrio entre a entrega infantil e o distanciamento adulto para que possamos apreciar a arte do cinema além do simples entretenimento.



2 comentários:

  1. FIRST!
    Gostei bastante do texto. Muito bom isso que você faz com seu irmãozinho. huahauhaua
    Parece até que está fazendo um teste... rs

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  2. Primeiro comentário do Sr. Fábio Rangel... hahaha

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