Há um tempo que estou "obrigando" meu irmão mais
novo, Guilherme, a assistir alguns clássicos do cinema. E por mais que a
experiência seja boa para ele, tenho certeza de que é muito mais interessante para
mim: acompanhar uma criança presenciando as
grandes cenas pela primeira vez não tem preço (nada original, eu sei) - O mais
fantástico é a capacidade dele de se envolver profundamente com o filme num
primeiro momento e no segundo já estar mais preocupado com o refrigerante e a
pipoca.
Estávamos vendo Tubarão (1975) na
cena em que a mãe, após ter o filho devorado pelo animal, acusa Martin Brody,
chefe da polícia local, de negligência. Meu irmão, que parecia desconectado do
filme, já que a cena começava festiva e conclusiva em decorrência da captura do
suposto tubarão assassino, viu-se em um estado de tensão crescente com a chegada da mulher. Percebi
que, aos poucos, ele se envolvera novamente, até que emoções conflitantes começaram
a surgir: revolta pela injustiça sofrida pelo chefe de polícia e pena pela dor
que sofria a mãe. E assim, estarrecido, ele resumiu seu estado emocional:
"estou me sentindo tão culpado
quanto o delegado".
Este é o poder de Hollywood.
Desde que Hollywood fora construída em terras californianas,
na década de 1910, os filmes eram produzidos com o objetivo claro de
entretenimento - não como uma simples diversão, mas sim
com a possibilidade de experimentar uma nova realidade existente nas
telas de cinema.
Todos os avanços técnicos e artísticos destinavam-se a aprimorar o efeito imersivo dos filmes que eram
muitas vezes utilizados como ferramenta política, não só servindo de escapismo
para o povo fragilizado pela guerra, como propaganda para líderes governamentais...
O público, principalmente o americano, acompanhou o
progresso da sétima arte e instintivamente desenvolveu a necessidade de
projetar nela os seus sonhos. Era na sala de cinema que o espectador vivia a
realidade que lhe convinha. Os gêneros fílmicos foram estabelecidos como
produtos variados de uma loja de departamentos.
O público escolhia, sem indesejadas surpresas, o que queria consumir, possibilitando um envolvimento maior na fantasia exibida pela tela.
Fato é que o cinema oferece os canais, e os espectadores o desejo de conectar-se a eles. Exatamente por
isso entendemos o porque do sucesso dos filmes de comédia pastelão do início do
século XX, dos poderosos romances como Casablanca, épicos como "E O Vento
levou..." e "Ben-Hur", longas de ação da década de 80 ou mesmo
as animações em 3D contemporâneas. Quanto mais acessíveis e mais apelativos forem os estímulos ao público, maior sucesso eles terão.
Consequentemente, a maioria do público adulto reagirá aos
filmes como crianças, buscando os que saciem essas necessidades primárias. Não
que isso seja ruim, mas sim, um elemento que dificulta o contato com um cinema mais introspectivo e profundo.
Acredito que, num primeiro momento, devemos buscar o
equilíbrio entre a entrega infantil e o distanciamento adulto para que possamos
apreciar a arte do cinema além do simples entretenimento.
FIRST!
ResponderExcluirGostei bastante do texto. Muito bom isso que você faz com seu irmãozinho. huahauhaua
Parece até que está fazendo um teste... rs
Primeiro comentário do Sr. Fábio Rangel... hahaha
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