terça-feira, 6 de março de 2012

Reflexão: Precisa-se de uma nova Hollywood!



A presença vitoriosa de O Artista no Oscar 2012 foi coerente aos parâmetros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, pois glorificou um ótimo filme que, inesperadamente, distanciou-se dos filmes corriqueiros que encontramos em cartaz. É suficientemente cativante e grandiloquente para agradar o grande público e reafirmar que uma boa história ainda está acima dos efeitos tecnológicos. Mas, apesar de entender que o Oscar de melhor filme celebra obras de cunho artístico que agradam o público em geral, caracterizando-se como um prazer um tanto mais intelectualizado, eu, indo na contramão, premiaria o filme Árvore da vida de Terrence Malick.

Esta sim, uma obra que traz luz à sétima arte, germinada das sinceras inquietações de alguém em busca de esclarecimento do seu verdadeiro papel como homem e artista. Um filme que extrapola o cinema como prazer fulgaz e comunica-se diretamente com o íntimo do espectador tirando-o de sua zona de conforto, fazendo-o repensar suas crendices e seus preconceitos. Árvore da Vida nos apresenta um quebra-cabeça aparentemente desmontado e incompleto, que necessita, para enfim montar-se numa tela, de nossas próprias peças construídas por nossas experiências de vida. Uma obra emocionalmente complexa que não teve o reconhecimento merecido nas premiações americanas e que passara totalmente despercebida pelo Oscar deste ano. 

Muitos especialistas vêm afirmando que Hollywood, mais do que nunca, demonstra sintomas de decadência - prova disso é a celebração de filmes que homenageiam os primórdios do cinema americano. Senão vejamos: A Invenção de Hugo Cabret é um culto aos filmes do gênio do cinema primitivo francês, George Méliès. Já Cavalo de Guerra bebe da fonte da era de ouro de Hollywood, final dos anos 30 e início dos 40. E, óbvio, O Artista que não deixa de ser uma colcha de retalhos dos signos do cinema mudo da década de 20. Pelo que parece, Hollywood precisa se reinventar, assim como fizera na década de 70 com a geração nascida na Segunda Grande Guerra que vivenciara a Guerra Fria e a do Vietnã, lançando o oxigênio necessário para que o cinema americano pudesse inflamar-se em grandes idéias, após duras crises econômicas, incompatibilidade com o novo público e, principalmente, duelo covarde com a televisão.
 
Fato é que além de estarmos inundados de refilmagens e continuações passamos a receber obras estruturadas em velhas fórmulas, recicladas com material que não foge do lugar comum. 

Os mesmos que antes inovavam, agora rendem-se ao fácil, ao conformismo. Mas não seria injusto crucificá-los? Execrando os mesmos que já contribuíram inexoravelmente para a história do cinema? 

Não esqueçamos que Scorsese entregou filmes como Caminhos Perigosos, Taxi Driver, Touro Indomável que redesenharam o subúrbio Nova Iorquino, a máfia americana, os símbolos morais do heroísmo e expurgou os traumas de toda uma geração. E Spielberg que catapultou a industrial hollywoodiana com Tubarão, teve coragem de comunicar-se com o intimo do público – (A Lista de Schindler, E.T. , Contatos Imediatos de Terceiro Grau... ), relembrando-o que, antes de mais nada, o cinema é a arte de emocionar.
  
O bastão deve ser passado, claro, do velho ao novo, mas antes de julgarmos o apego dos antigos, devemos descobrir quem serão os jovens que o receberão. 



7 comentários:

  1. Muito bom seu texto, como sempre!
    Deixa só eu aproveitar para te perguntar algumas coisas que me confundem um pouco.. você diz que Árvore da Vida é um filme complexo e que foi pouco reconhecido no Oscar... Mas, o Oscar, é reflexo e resultado de qual dos papeis do cinema? Seria para exaltar um filme profundamente e tecnicamente perfeito, ou exaltar seu efeito perante o público? Até onde vai a complexidade geral humana para entender o cerne da obra e até onde vai o menosprezo de nossas possibilidades a ponto de acreditar que não entenderíamos caso fosse reconhecido? Qual é o papel do Oscar nesse caso? Esse filme realmente mereceria estar lá? Bjos!! Parabéns de novo!

    ResponderExcluir
  2. Nossa! Boas perguntas!

    Na verdade o Oscar foi criado para celebrar a própria Hollywood e todo seu destaque no cinema mundial. Antes de premiar a obra artística ou as grandes bilheterias, o Oscar premia o próprio cinema americano pela sua excelência.

    Então nada melhor do que premiar um filme que demonstre toda a capacidade do cinema americano perante os críticos e o público. E o mesmo conservadorismo encontrado nos estúdios, principalmente nas décadas de 30, 40 e 50, será encontrado na academia. Então um produz, em sua maioria, filmes condizentes com o código moral americano, pouco se arriscando, e o outro os premia, muitas vezes por realmente achá-los condizentes e prodigiosos. Acho que sempre a Academia tenderá para esse caminho, só mudará, assim como os estúdios, quando algo realmente determinante ocorrer, como foi o advento da televisão.

    Então, entendo, e até acho natural, um filme como Árvore da Vida não vencer, pelo simples fato dnão haver atingido o corpo votante assim como não atingiu o público majoritário. Há, muitas vezes, jogo político nas escolhas do vencedores, mas muitas vezes há a pura e simples limitação. Por isso, acho, que, neste momento, Árvore da Vida realmente não deveria ser premiado, pois seu louros serão colhidos anos a frente.

    Espero ter respondido sua pergunta...rs
    valeu mesmo pela pergunta e todo o apoio que você me dá neste blog e na minha vida....rs bj!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Claro que respondeu..
      Você merece sempre todo meu apoio.. você é demais! rs
      Bjo!!

      Excluir
  3. Agora uma perguntinha cretina! rs
    Na sua opinião, quem serão esses jovens que receberão o bastão?
    Dá pra apontar alguns? Porque eu lembro muito bem que o Shayamalan era tido como uma nova promessa. No entanto, não tem feito bons filmes. Até que ponto dá pra apontar essas ''promessas''?

    ResponderExcluir
  4. Perguntinha difícil... rs
    Eu acho que no momento o bastão deveria ser passado para a geração da década de 90, mas não será ela que revolucionará Hollywood. Talvez sirva como intermediário.

    Temos, no cinema americano, Aronofsky (46), P. T. Anderson (43), Tarantino (48), os irmãos Wachowski (44/43) - que eu ainda acho que darão muito caldo -, David Fincher (49)... E tem aquela galera que meio de decepcionou, que é o caso do Steven Soderberg que foi lançado com um filme independente sensacional - Sexo, Mentiras e Videotape -, mas que está em declínio...

    Eu não acompanho tanto os filmes independentes americanos, mas em Hollywood não tem diretor na casa dos 30 começando a estourar... Sad, but true...

    ResponderExcluir
  5. Um período de mergulho nos clássicos não é privilégio da arte cinematográfica. A arte como um todo viveu períodos extensos de classicismo precedentes de modernismos. Tradição e ruptura convivem, se contrapõem, dialogam entre si. A história da arte mostra que, em muitas vezes, esse convívio antecede a vanguarda. Particularmente acredito que na ausência ou no esgotamento das utopias, o saudosismo se fortalece. Agora eu te pergunto meu caro amigo Rodrigo: com a tecnologia a serviço da arte aliada a um período pós guerra fria(período de confronto ideológico acentuado) não ocorre um favorecimento ao fracasso de narrativas atuais frente as releituras de idéias antes utópicas em modo high-tech?

    ResponderExcluir
  6. Perfeito sua pensamento sobre a relação intrínseca entre tradição e revolução (reformulação).
    Respondendo sua pergunta, eu acho que depende. Acredito que todos esses fatores corroboram para que o artista, e principalmente ele, seja um canalisador e, por conseguinte, um comunicador dos traumas viventes da geração. Acho que muitas vezes antes dele atuar intelectualmente, ele age de forma emocional e sensorial, num primeiro momento, para depois sim, digerir tudo que foi exposto - a obra de arte e todo seu significado.

    Mas é como você falou, se há tempos de tranquilidade a tendência é o artista não ter força motriz para gerar sua obra, acabando por beber, rotineiramente, do passado.

    ResponderExcluir