domingo, 12 de fevereiro de 2012

Crítica: Os Descendentes (2011)



 
* As cenas comentadas estão no trailer!

Falar de Os Descendentes não é tão simples quanto parece. Se, numa primeira impressão, acreditamos que o filme é simplório e escorrega no humor fácil, numa segunda, mais reflexiva, percebemos a intenção do diretor em buscar um caminho ágil e libertário entre o caricato e o naturalista. E este antagonismo será o cerne estrutural do filme.

Alexander Payne, diretor do longa, havia dissertado sobre a dicotomia entre personagens e  situações em Sideways, algo que, de forma diferente, trouxera para "Os Descendentes". Se no primeiro as diferenças opositoras residiam nas atitudes dos personagens, criando momentos que vagavam do escracho à sutileza, no segundo, o protagonista, construído e humanizado sem grandes exageros, é inserido numa narrativa incomum transcorrida num cenário fantasticamente irreal.

O diretor é competente ao desenvolver os personagens coadjuvantes com o mínimo necessário, dando tempo e espaço à Clooney. Por exemplo, a cena em que a amiga está a maquiar Elizabeth no hospital cria, junto as nossas próprias experiências, base suficiente para que venhamos a entender as atitudes dos dois ao se depararem com Matt enfurecido pela descoberta da traição. Pois a atitude ofensiva e imatura da mulher e a defensiva do marido são coerentes com nossas próprias expectativas em relação aos dois. Entretanto Payne erra ao esquecer estes e outros elementos dramáticos ao longo da projeção.


Fato é que o diretor desenvolve a história com extrema habilidade até sua metade, conectando forças opostas com nuances e aproveitando o máximo do talento dos atores. Destaco a sequência em que Matt descobre que fora traído pela esposa numa conversa com a filha e, pulsando de raiva, corre até os amigos com intuito de descobrir a identidade do amante. O diálogo entre pai e filha é tão real que inesperadamente percebemo-nos compartilhando de seus sofrimentos. E ainda envolvidos no drama somos transportados para o humor junto à desajeitada corrida de Matt. A comicidade surge naturalmente com o uso genial de elementos corriqueiros e comuns a todos: a dificuldade em calçar-se o sapato na pressa e a corrida desengonçada pelo chão molhado.

Entretanto a obra boicota-se ao se afastar da premissa, deixando piadas baratas dominarem os momentos de humor, não concluindo seus arcos dramáticos e inserindo personagens caricaturados que pouco contribuem à narrativa. E por fim, o filme acaba por sustentar-se apenas na magnífica atuação de Clooney, que consegue, numa única cena, humanizar sua esposa, revitalizar a dramaticidade do tema e emocionar o espectador.

Acredito que Payne tenha errado a mão, não por covardia ou por adequar-se à normas mercadológicas, mas sim por tentar migrar a estrutura carregada de Sideways para um filme que necessitava de maior sutileza. Independente disto, admito, que ao término do filme, mesmo sob a estranha sensação de desapontamento, ficaram os momentos de genialidade escondidos em meio à deslumbrante paisagem do Havaí.




Um comentário: