sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Análise (parte 2): Corra, Lola, Corra


Vale ressaltar que essa análise entrega toda a história do filme.


A primeira fase de Lola é baseada na sua submissão e à total falta de força para conseguir dominar sua própria vida. Numa montagem convergente, o plano de Lola correndo é sucedido pelo da amante do pai desabafando. Cria-se uma relação direta com o estado emocional de Lola e ainda com a futura descoberta da condição de filha ilegítima.


Lola se encontra tão fraca que mesmo quando a situação a coloca como ser dominante, ela encolhe. Perceba como o pai posta-se submisso ao ser pego em flagrante pela filha colocando-se em posição inferior à Lola no plano (1), e como a própria se rebaixa implorando por ajuda (2). Lola ainda é conduzida passivamente por ele (3) e pelo policial (4), culminando no pai expulsando-a de sua vida ao declarar que ela não é sua filha - ilustrado quando ele a empurra porta a fora. 

 

O Destino, como personagem, é enfatizado em cada encontro de Lola com um “estranho” (senhora com carrinho de bebê, mendigo, rapaz na bicicleta...), em cada tempo perdido ou ganho e em cada escolha feita por ela, num grande efeito dominó. Lola parece querer dividir sua dor conosco (ao olhar para a câmera) e continua por ignorar Deus, quem de fato pode ajudá-la (senhorinha oferece a mão). Alias a presença divina é marcada pela infinidade de planos aéreos (plongées) ao longo do filme.   


Lola de tão frágil não interfere nem positivamente e negativamente em seu destino e no dos outros. Seja na ambulância que passa indiferente ou no namorado que não a ouve.


Destaque para a montagem convergente de Manni caminhando até a loja com intenção de assaltá-la e Lola correndo para impedi-lo. Esse tipo de montagem é baseado em dois canais: saída esperada (Lola impedindo que ele assalte o supermercado) e saída temida (Lola fracassando). Contraditoriamente, em se tratando de uma montagem de planos de ações diferentes que irão convergir, eles não se encontram fisicamente, mas sim num mesmo plano.


Lola, então, aceita juntar-se à Manni no assalto. Sentindo, talvez pela primeira vez, compartilhar algo “real” com ele (vide a fuga deles embalada por uma melodia harmoniosa) e a sensação de domínio da situação (câmera parece respeitá-la). A arma de fogo situa-se como um catalisador para sua transformação de submissão à dominância.


Então, Lola é baleada. E Manni “também” (1). Ele se desarma (metaforicamente (2)) e se arrepende das escolhas que acarretaram na perda de Lola, entretanto eles já estão separados, pelo bem ou pelo mal (plano e contraplano que os separam (3 e 4)).  

 
 

Lola transcende para um plano (vermelho) fora do campo e do extracampo. Ela transparece toda sua insegurança e tenta agarrar-se no único fragmento que restou de sua vida: o amor de Manni. Seria suficiente?


Perceba como o quadro em que Lola está no centro é desequilibrado pela presença de Manni no lado esquerdo (lado fraco do plano). E como o cigarro que ele fuma simboliza sua materialidade.


As espirais (tempo) que aparecem no travesseiro permeiam todo o filme, seja na escada que Lola desce ou mesmo no enfeite da loja atrás da cabine telefônica.


Continua...








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