quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Análise (parte 1): Corra, Lola, Corra



Vale ressaltar que essa análise entrega toda a história do filme.


“Corra, Lola, Corra” sintetiza muito bem o que foi a década de 90. Não só em sua forma, mas em seu conteúdo. E, apesar de certa imaturidade em querer responder questões existenciais, o filme destaca-se exatamente por abraçá-la.

Da estrutura vídeoclíptica, na paridade com as características do videogame, do excesso de cores primárias e da superficialidade, tudo se volta para o homem materialista. E consegue, de certa forma surpreendentemente, encorpar o filme com algumas camadas. 

O pêndulo do relógio no prólogo escancara o grande personagem do filme: o Tempo. Pois é ele quem dá e cobra o nosso próprio tempo.

No plano seguinte, uma multidão vaga sem destino olhando para o próprio umbigo. E assim como o destino que coloca alguns desconhecidos em nosso caminho, a câmera encontra alguns personagens participantes da história de Lola.

Se a vida é um jogo e nós somos os personagens, quem está no controle?

O mergulho do céu ao aposento onde toca o telefone acusa um pedido de socorro, mas de quem? De Manni ou de Lola? Apesar da construção do diálogo entre o casal denotar a fragilidade e dependência de Manni à namorada, perceberemos que ela compartilha dessa fragilidade, mas de uma forma completamente diferente.

A fragilidade de Manni é estabelecida pelo isolamento dele na cabine telefônica. A cabine é a prisão que o comprime, mas também quem o mantém a salvo de suas escolhas equivocadas.

Perceba, também, como a estrutura da cabine o espreme no canto direito do quadro. E como o telefone, símbolo de Lola, é quem o equilibra no plano. E que a esperança que ele deposita em Lola é representada pela luz que envolve tanto ela quanto o telefone. 


A trágica história, em preto e branco, contada por Manni é constatação de sua própria derrocada. Independente dele conseguir, ou não, o dinheiro.

Fato que é ilustrado pelo plano em que ele recebe o pacote do traficante. O quadro está divido pela cor branca, de um lado Manni, do outro os bandidos (uma placa ao fundo sinaliza o perigo). No plano seguinte o vemos pela janela branca do carro. Ele ultrapassou a fronteira e não há mais volta.    


Os devaneios de Manni em relação à bolsa e ao mendigo possuem uma estrutura hipertextual que culmina no ponto determinante de seu desespero: Ronnie.

Manni não percebe a vida insignificante que leva. Limita-se a temer decepcionar Ronnie, o líder da gangue (centro do quadro). E este é idealizado por Manni como um obstáculo intransponível (parede de tijolos), colocando-se, então, naturalmente submisso a ele. Entretanto os dois, na condição em que se encontram, são medíocres da mesma maneira (plano em desequilíbrio). 
  

Já Lola sofre por saber que leva uma vida insignificante, não sendo ignorante como o namorado. Foge da responsabilidade para com sua vida e entrega-se à condição de coadjuvante de Manni. Justificando assim seu desespero por ajudá-lo. Em dado momento, aflita com o destempero dele, explode num grito direcionado aos céus. Como se implorasse para que Deus a esquecesse e a deixasse viver em paz sua ilusão.

O plano, tendo Lola ao centro (levemente inclinada para a esquerda), se divide em escuridão (lado esquerdo) e luz (lado direito). Lola, ao gritar, faz sua escolha inclinando-se em definitivo para a escuridão, dando as costas à luz. 


E a partir desse ponto, Lola parte para sua primeira busca (fase).

Continua...








2 comentários:

  1. Excelente cara. Não vi o aviso de spollier e tomei na cara! Mas valeu a pena. Parte 2 já!
    Abraços

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  2. Putz que análise interessante! Não percebi VÁRIAS coisas tão importantes nesse filme, tô me sentindo muito leigo rsrs. Muito bom o blog, continue com as análises. A próxima é Stalker ou Potenkim? rsrs Abraços

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