segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Crítica: O Artista (2011)



O Artista, produção franco-belga, é uma grande homenagem à fase de ouro do cinema mudo americano. O diretor Michel Hazanavicius conseguiu condensar todos os signos marcantes das obras cinematográficas da década de 1920 num só longa.

A narrativa desenrola-se entre a migração do filme mudo para o sonoro pontuando a inadequação do grande astro da época, George Valentin, ao cinema falado. Este, vivido por Jean Dujardin, é baseado diretamente no ator Rodolfo Valentino, famoso por suas atuações excessivamente limitadas ao estilo da década de 20. Seu par romântico é Peppy Miller, interpretada por Bérénice Bejo, uma atriz iniciante, lançada pelo próprio Valentin, que, em contrapartida, vê-se catapultada ao estrelato com o advento do som.

O filme nasce de uma miscelânea de símbolos da gramática cinematográfica do início do século XX, dos mais notórios como: paleta preta e branca, formato de tela 4:3, interlúdios (cartazes com os textos), personagens rasos e narrativa simplória embebidos de um ilibado código moral, aos menos perceptíveis, como: enquadramentos engessados, montagem clássica e iluminação tênue. Contudo, Hazanavicius preocupa-se em atualizá-lo ao público contemporâneo aumentando o número de cortes, movimentando um pouco mais a câmera e, principalmente, suavizando as atuações. E estas, quando extravagantes, são utilizadas intencionalmente como alívio cômico.


O Artista consegue ser tão lúcido em sua narrativa metalinguística que por vezes não damos falta dos diálogo, qualidade alcançada, principalmente, pela habilidade com que o casal protagonista é interpretado e devido à competente trilha sonora que auxilia no contar da história. Destaco também a fascinante direção de arte e o trabalho impecável na reconstituição dos cenários e figurinos: logo ao início da projeção, durante um passeio da câmera por uma suntuosa sala de cinema lotada, vi-me totalmente imerso naquele mundo espetaculoso, de homens de beca e cartola e mulheres sob jóias e enfeites. Duma época onde os filmes ainda se permitiam certa ingenuidade e o cinema, de astros e estrelas, era sinônimo de grandiloquência.

O fato é que o filme por vezes surge como um pastiche de Cantando na Chuva, que narra esta mesma transição ao cinema sonoro, mas destaca-se no mercado cinematográfico devido à falta de bons filmes, e principalmente, pela extinção do cinema clássico Hollywoodiano. Hazanavius criou uma obra bela e agradável, remodelando os filmes americanos da década de 20 num corpo único, mas, para tornar-lhe obra-prima, faltou-lhe a alma dos gênios do cinema mudo.